Baixas temperaturas e tempo seco do inverno contribuem para que a doença se propague; médicos pedem cuidados
No dia 19 de junho, a tosse seca, a dor de garganta e uma sensação de cansaço passaram a incomodar a jornalista aposentada Regina Perillo, de 70 anos. Mesmo sem ter febre, um amigo médico a aconselhou a procurar um hospital. Dois dias depois, após os sintomas piorarem, a mulher foi a um pronto-socorro e recebeu o diagnóstico: pneumonia.
Com isso, a jornalista entrou para uma estatística que tem preocupado autoridades de saúde. Nos últimos três anos, houve aumentos consecutivos nos diagnósticos da doença em Belo Horizonte. Se em 2021 a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) registrou 3.570 casos de internações, no ano seguinte, foram 4.779, alta de 33,86%. Em 2023, o número chegou a 4.962 (crescimento de 3,83% em relação ao ano anterior).
Já as mortes passaram de 757 para 931, de 2021 para 2022 (22,98% a mais), e alcançaram 1.014 em 2023 (alta de 8,91%). Só nos quatro primeiros meses deste ano são 1.314 internações, com 205 óbitos – números ainda não consolidados e que podem crescer, conforme a pasta. E, com as baixas temperaturas e o tempo seco do inverno, a tendência, segundo especialistas, é que mais pessoas fiquem doentes.
“A gente ainda vivia o caos da Covid-19 e muito tempo de confinamento, em 2021. Com isso, pararam de circular cepas que habitualmente circulavam na época do inverno e as pessoas não tinham imunidade suficiente. Quando elas voltaram a ter contato social, a transmissão dessas cepas de vírus e até a transmissão de bactérias voltaram a acontecer. E, por isso, a gente acredita que tenha aumentado os casos de pneumonia”, explica Michelle Andreata, médica pneumologista e paliativista da empresa especializada em home care, Saúde no Lar.
Ela ressalta que é importante deixar o ambiente ventilado. Também é fundamental lavar bem as mãos e, se estiver com sintomas de doenças respiratórias, utilizar a máscara para evitar a contaminação de outras pessoas. Além disso, deve-se buscar atendimento médico, como fez Regina, que realizou tratamento com antibiótico e corticoide e agora usa bombinha até que os sintomas desapareçam completamente.
“Hoje eu estou muito melhor, mas ainda com um pouco de tosse e ofegante. Não sei como eu peguei essa pneumonia, pois não fumo e estava em repouso absoluto, por conta da recuperação de uma cirurgia no quadril. Ainda bem que fui cedo ao médico, porque, senão, poderia estar pior”, afirma Regina.
Sintomas podem variar em pacientes
Assim como Regina Perillo, Maria do Carmo Mendes, aposentada, de 63 anos, foi diagnosticada com pneumonia. No mês passado, ela começou a ter uma tosse intensa, acompanhada posteriormente de dor nas costas e muita falta de ar. Apesar de não apresentar febre, ao realizar exames no médico e fazer o raio-X do tórax, ela teve constatada a pneumonia.
“Eu fiquei em choque, nunca tinha tido isso nem sabia quais eram os sintomas. Graças a Deus eu não tive febre, mas ainda assim peguei a doença. A falta de ar era muito grande, além sentir dores fortes em todo o corpo. O tratamento com remédios deu certo, e estou praticamente 100%”, conta.
Apesar de a febre ser um dos sintomas característicos da pneumonia, não necessariamente ela se apresenta em um paciente, principalmente idosos e crianças, que são dois dos grupos de risco, conforme explica o pneumologista Daniel Bretas.
“Os sintomas mais comuns são tosse, febre, mal-estar, falta de ar, prostração e dor torácica. Em idosos podem vir com sintomas mais brandos, apenas uma mudança do estado neurológico habitual, como confusão mental ou perturbação. Em crianças é mais prostração e recusa alimentar”, explica.
Lugar fechado aumenta o risco
As baixas temperaturas e o tempo seco do inverno contribuem para a alta do número de casos de pneumonia, como explica Daniel Bretas, pneumologista e presidente da Sociedade Mineira de Pneumologia e Cirurgia Torácica.
“No inverno, as pessoas tendem a deixar os ambientes mais fechados, para evitar as baixas temperaturas dentro de casa ou no ambiente de trabalho. Com isso há uma menor circulação de ar, aumentando o risco de transmissão de doenças através das vias aéreas, que podem acabar se agravando e causando pneumonia”, alerta.
O especialista também aponta que a baixa umidade do ar e a poluição potencializam a possibilidade de desenvolver a doença. “A inalação de poluentes pode acabar afetando os pulmões e as vias respiratórias. Em áreas com um alto índice de queimadas, isso se agrava ainda mais. Por isso, é importante ter o cuidado de manter o organismo bem hidratado e alimentado”, completou.
Representação
Além de crescer em números totais nos últimos três anos, as internações por pneumonia também aumentaram em relação ao somatório de doenças respiratórias em BH. Se em 2021 elas representavam 16,48% dos casos (3.570 de 21.660), em 2023 passaram para 41,87% (4.962 de 11.850). Isso se deve também à queda nos registros totais de doenças respiratórias.
Orientação
A Prefeitura de BH informou que quem tiver sintomas de pneumonia deve procurar um dos 152 centros de saúde da capital, que funcionam de segunda a sexta-feira, 12 horas por dia. Aos fins de semana e feriados, o atendimento é realizado nas UPAs. Se diagnosticada a doença, os médicos vão avaliar o quadro do paciente para definir se o tratamento será ambulatorial ou com internação hospitalar.